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São Paulo

são paulo terra vertical de mil e uma torres de babel
de babilônias sob teus arranha-céus
de hieroglifos tatuados no teu corpo diariamente chacinado
de cabeças que se acham olhando para cima
de pés que sobem na vida de andar em andar

são paulo massa cinzenta de vinte e dois tentáculos
de mais de quatrocentas maneiras diferentes de dizer teu nome
de falência múltipla dos teus órgãos
de campos minados e pernas arrancadas
de territórios com teus portões vigiados

são paulo bad trip onde ninguém é são
são paulo onde ninguém é paulo ou joão
são paulo onde ninguém é paulo ou paulete
são paulo rua augusta número 37
são paulo onde ninguém é paulo ou judas
são paulo onde ninguém é judas ou judith
são paulo sem convite

são paulo fila única onde você vai um dia
são paulo onde mais você iria?
são paulo onde fica sp
são paulo onde você vai morrer

são paulo cardápio à mão
testemunhaste em coro meu voo tirésias em tua manhã virada de óleo rímel e passos largos
começamos pelo fim
pelo cemitério da consolação
pelos vivos
onde está mário de andrade?
onde medita nosso capitão loucura?
a funcionária uniformizada com uma vassoura na mão é uma deusa africana que levita e aponta na direção de girassóis

são paulo ácido central de visitas inesperadas
de aparições na neblina
de jardins brotando do ânus da besta
a paris que paris queria ser
a londres que londres queria ser
a nova york que nova york queria ser
a são paulo que são paulo queria ser

são paulo conexão bastarda de túmulos vazios
ouviste teus poemas lidos em minha voz alta
tuas estátuas ficaram para trás
não me vaiam nem me arremessam queixas

são paulo pingam brasis de teu suor
a família andrade me recebe com cafezinho bolachas e manifestos
chove, oswald, irmão de mário
se fosse dia de sol sairíamos os três pela cidade
chove, mário, pai de tantos irmãos
esqueço contigo meus óculos escuros
fica de presente para quando o sol sair
se fosse dia de sol sairíamos os três pela cidade

são paulo partidas e retornos
sei onde moras com quem vives o que fazes por onde andas
quando perceberes são paulo já estarei aqui de novo
perambulando entre tuas cicatrizes




Dio






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Vida de tio

tio, hoje tem aula? tio, que dia é hoje? tio, você é professor de quê? tio, são quantos tempos?  tio, que horas acaba a aula?  tio, vai passar muita coisa? tio, é pra copiar?  tio, é pra responder? tio, vai corrigir? tio, vale ponto?  tio, posso apagar o quadro? tio, hoje tem teste? tio, quando é a prova? tio, vale quanto?  tio, posso ir ao banheiro? tio, posso encher a garrafinha?  tio, posso falar com a Susi?  tio, posso sair da sala, dar um rolê pelo colégio e voltar só quando eu quiser?  tio, por que você não veio ontem? tio, por que você veio hoje? tio, você não vem amanhã, né?  tio, pode pedir pra ele devolver minha caneta?  tio, pode falar pra ela parar de implicar comigo?  tio, você gosta da gente? tio, essa é a pior turma que você já teve?  tio, acabou? tio, pode guardar o material?  tio, pode ir? Dio