implodiram a torre
o poeta acordou entre escombros
tentou pegar na mão de Deus
não havia deus
não havia mão
não havia escombros
torre implosão nada
o poeta é o zero que se alimenta do negativo
a novidade de muitos muitos anos
mudam as peças e eu dou um bico no tabuleiro
a entidade que caminha sobre brasa
amordaçam livros nas vitrines
os de poesia estão virados pra parede repetindo cem vezes eu não vendo! eu não vendo! eu não vendo!
a bunda limpa com os best-sellers
acompanhados de um obrigado e volte sempre tão falsos quanto cursos oficinas palestras congressos escolas graduações especializações mestrados doutorados pós-docs
todos mais perdidos que ferreira gullar num baile funk na cidade de deus
mais perdidos que ariano suassuna num show de heavy metal na barra da tijuca
mais perdidos que sonetistas empalhados xerocados grampeados encadernados
debatem-se como peixe fora d'água
esquecido no fundo da mochila
na mesa do escritório
na prateleira do armário
há muito poeta e pouca poesia
a poesia paga o preço e deixa o troco
a poesia paga o preço de não dever nada a ninguém
a poesia pega o que é dos outros e sai correndo
é álcool no leite
praga na colheita
vida panamérica adentro
moinhos de vento afora
uivo em noite de lua cheia
sinal de vida no céu estático
pequeno príncipe no rabo do cometa
no rabo do rei
ataque kamikaze no porto das verdades
Dio
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