copacabana
copacabana 24 horas no fio da navalha
queridos óculos escuros
cinco dias-luz a conta-gotas
o apartamento é um cubo mágico à espera do próximo movimento
minha janela dilata visões confusas de um lugar solto no mundo
os ponteiros na parede giram alucinados por um pouco mais
eu preciso descer para alcançar
desver é uma tecla nula do painel
contatos mediados pelo interfone dos códigos
lá embaixo lavam a calçada com sal
a encomenda nas mãos de um moleque de treze anos invisibiliza a pronta-entrega
satisfação garantida ou sua grana devota
copacabana 24 hordas no balanço da maré
rolé
van gogh sobe o cantagalo na esperança de que pinte alguma coisa
ele monta na garupa do Cão e lasca cores vivas nas autorrepresentações sem alma
querem arrancar-lhe a orelha e enviá-la como prova do sequestro
vai grogue demais para cativeiros carentes de audácia
pega o caminho das ondas sinuosas que hablan español
vamos embarcar em el barquito de la locura
velas de cânhamo a postos
motores etílicos prontos para zarpar
levantar âncora e desligar bússolas
as águas nos levam para dentro do redemoinho
tudo se mistura e tudo se mostarda nas fatias da larica-guia
george michael diz que quem não bebe não transa
lulu santos concorda com uma capirinha na mão
desfilam micheladas e cervejas e vinhos sob olhares destilados de luxúria
ana carolina e alejandro sanz comem pipoca doce porque a salgada não dá onda
o medo de ayrton senna e o mar de carlos drummond de andrade conchavam o grande segredo de barracas e palácios
um tiro no peito e o resto é espuma
lente
queridos óculos escuros
companheiro de batalhas íntimas
cúmplice de vitórias arranjadas
confidente de derrotas magnas
não existe sacrificio em vão
há luz que faz jus à escuridão
agora os sete mares são outros
vai ser lente no fundo das causas perdidas
a onda não sabe esperar
o oceano tem fome e leva tudo
quando o mar pede a gente não briga
azedo
recolha teus corpos, copacabana, porque teus cachorros querem passar
cadáveres nao usam guia nem defecam no caminho da princesinha
tua minhoca carrega vidas terra adentro
elas cantam no karaokê do bairro vizinho
18 graus de um réveillon sem luz
figurantes do teu show amontoam-se encostados na banca de jornal
tua ressaca é moral
e tua salvação atende por dorival caymmi
é doce morrer no mar
é salgado o metro quadrado
estás pronta, copacabana, para azedar de vez
Dio Costa
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