fui ao mercado comprar carne quando vi o preço, perguntei "por que tão cara, dona carne?" "é a inflação, meu filho", disse e continuou "já viu o preço do feijão? do arroz? do gás? já viu como aumentou o preço da cesta básica?" parei com o carrinho vazio pensei em tudo que perdemos na redução do poder de compra na fachada do salário mínimo abri a carteira encarei o nada "viu aí?", perguntou dona carne "o quê?", perguntei de volta "o dólar batendo recordes" "aqui não tem dólar não, dona carne", falei com um riso envergonhado "pois é, meu filho", respondeu dona carne e completou "se não tem dólar aí, é porque tem muito em outro lugar" olhei pra dona carne dona carne me olhou "devo me acostumar? sem carne? sem festa? sem disney? apenas besteiras e desvalorizações?" pensei alto nem passei pelo caixa meu consumo não conhece paraísos fiscais não tenho fortuna pra aumentar voltei pra
"Será sempre difícil exercer, de forma ao mesmo tempo nobre e frutífera, a condição de homem de letras sem se expor à difamação, à calúnia dos impotentes, à inveja dos ricos (...), às vinganças da mediocridade burguesa" (Charles Baudelaire) / "Ciranda do céu, rave de tambor" (Baco Exu do Blues)