Deixe a águia abortada demonstrar como ela evitou a flecha com a ameaça da morte: seus olhos fechados, suas penas desenvolvidas pela metade. Deixe-a ensinar quão sábia foi sua morte prematura, como o caçador parou só por um momento no caminho estreito e ele não desperdiçaria seu braço para esfriar o calor de uma morte rápida. E deixe os heróis, com suas espadas prometidas, acreditar na batalha mais escura: o aço impensado, a velha porém árdua carne, o impulso e o lamento. E deixe-os especular sobre seus esqueletos estilhaçados indo pelo campo seco da morte, doloroso, barulhento e frágil. Então deixe-os lembrar da águia abortada e dos ossos das aves jovens que não machucam ou mexem. Tradução: Dio Costa
"Será sempre difícil exercer, de forma ao mesmo tempo nobre e frutífera, a condição de homem de letras sem se expor à difamação, à calúnia dos impotentes, à inveja dos ricos (...), às vinganças da mediocridade burguesa" (Charles Baudelaire) / "Ciranda do céu, rave de tambor" (Baco Exu do Blues)